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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Clube de Letras de Sete Lagoas: 195º Serão Poético de Sete Lagoas Em homenagem as ...

Clube de Letras de Sete Lagoas: 195º Serão Poético de Sete Lagoas Em homenagem as ...: A Prefeitura de Sete Lagoas, com apoio da secretaria municipal de Cultura e Comunicação Social e o Clube de Letras realizará neste sábado (...

195º Serão Poético de Sete Lagoas Em homenagem as Crianças


A Prefeitura de Sete Lagoas, com apoio da secretaria municipal de Cultura e Comunicação Social e o Clube de Letras realizará neste sábado (1º de outubro), às 20h, o 195º Serão Poético. O evento, que tradicionalmente acontece no primeiro sábado de todo mês, será realizado na Casa da Cultura Francisco Timóteo Pereira, na orla da Lagoa Paulino.

O 195º Serão Poético fará uma homenagem ao Dia das Crianças e de Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do Brasil, que é comemorado oficialmente no dia 12 de outubro. A professora Marisa da Conceição Pereira, presidente do Clube de Letras de Sete Lagoas, explica que será realizada a Ciranda Poética, quando as crianças vão proclamar diversos poemas, incluindo alguns de sua autoria. “A Ciranda Poética será uma grande atração nesta edição. A Ciranda revela valores mirins da literatura sete-lagoana. Ver essas crianças declamar poemas é muito satisfatório. Além disso, também deve chamar atenção a ‘Contação de Causos’, com apresentação do ator Tiago Amador Abreu da Silva, da Companhia PreQaria de Teatro”, diz a presidente do Clube de Letras.

O Serão Poético também realizará uma homenagem ao Dia do Professor, comemorado no dia 15 de outubro. Participarão da 195ª edição os professores Margareth Melgaço de Oliveira e Clarindo de Assiz Lima Júnior.

O 195º Serão Poético acontecerá na Casa da Cultura, na avenida Getúlio Vargas, 91, Centro. A entrada é franca.

sábado, 24 de setembro de 2011

Clube de Letras de Sete Lagoas: Academias de Letras na era da blogosfera

Clube de Letras de Sete Lagoas: Academias de Letras na era da blogosfera: ENTREVISTA COM CARLOS VERSIANI SOBRE A ACADEMIA OUROPRETANA DE LETRAS Marta Rezende - O Estatuto da Academia Ouro Pretana de Letras apr...

Academias de Letras na era da blogosfera




ENTREVISTA COM CARLOS VERSIANI SOBRE A ACADEMIA OUROPRETANA DE LETRAS


Marta Rezende - O Estatuto da Academia Ouro Pretana de Letras apresenta uma série de condições para ser acadêmico, sendo uma delas ter ao menos um livro publicado. Os blogs pululam por aí (no Brasil, já ultrapassam em muito 1 milhão), além de outras formas de edições eletrônicas. Você não acha que o livro publicado em gráfica é um critério conservador num contexto em que as novas tecnologias de informação e comunicação permitem uma fantástica democratização da leitura e escrita?

Carlos Versiani- Esta é uma discussão que uma academia de letras não pode fugir. E quem dera mesmo que todo mundo fosse escritor, seja em livros, em blogs ou em guardanapos de boteco. Mas, não acho limitante o formato livro. Eu, pelo menos, não consigo ficar quinze minutos lendo em computador. O livro não é só uma tradição. É uma arte, uma preciosidade, um objeto de estimação. Que todos devem ter o direito e o prazer de ler e de publicar. E a Academia Ouro-pretana de Letras está aqui para incentivar isso.

M - O formato academia (de ciências, inicialmente) foi criado no século XVII e consolidado no século XIX. Qual o sentido de uma academia de letras no século XXI quando o mundo ficou, está cada vez mais, muito diferente de todo esse passado?

C - O nome academia realmente pode estar associado a algo conservador, elitizado, antigo, levando realmente a alguma resistência ou mesmo preconceitos. Mas a tradição em si não é negativa. Senão nem teria sentido a valorização de todo o patrimônio histórico e cultural de Ouro Preto. A tradição negativa é a tradição morta. E não é isto que se pretende para a nova Academia Ouropretana de Letras. Pretendemos fazê-la atuante, em interlocução com toda a sociedade, com todas as áreas da arte e da cultura, abri-la ao campo da pesquisa, publicar e incentivar a publicação de obras, promover eventos e concursos. E se modernidade é a palavra, teremos também um site, moderno e atualizado.

M - Quando se fala em academia de letras, vem à cabeça: fardões e chá. A Academia Ouro Pretana de Letras vai instituir essas práticas?

C - Não. Alguém brincou que se fôssemos usar os fardões, só se fossem os do Zé Pereira dos Lacaios. A diretoria se reunirá sempre e a assembléia, no mínimo, duas vezes ao ano. Os acadêmicos, conforme o estatuto, se reunirão ao menos uma vez a cada dois meses. Se quiserem tomar chá, ou vinho, ou refrigerante, não importa. Contanto que as reuniões sejam agradáveis e produtivas.

M – O estatuto da Academia Ouropretana de Letras define 40 cadeiras. Quais são elas e quem são os atuais ocupantes eleitos na assembléia de fundação?

C - Para as 40 cadeiras não temos pressa, pois afinal, a Academia se faz com todos os sócios, sejam fundadores, acadêmicos ou os chamados correspondentes. Já tomaram posse os primeiros acadêmicos, eleitos para as primeiras quatro cadeiras. Para a cadeira 1, tendo como patrono João Guimarães Rosa, foi empossada Rui Mourão; para a cadeira 2, tendo como patrono Eponina Ruas, foi empossada Terezinha Lobo Leite; para a cadeira 3, tendo como patrono Cláudio Manoel da Costa, foi empossado José Efigênio Pinto Coelho e para a cadeira 4, tendo como patrona Beatriz Brandão, foi empossada Guiomar de Grammont.

M – E para a diretoria, quem foram os escolhidos?

C - Foram eleitos Carlos Versiani (presidente); Jusberto Vaz Cardoso (vice-presidente), Mercês Paiva (primeira secretária), Carlos Lisboa (tesoureiro), Ângela Xavier (diretora de relações públicas), Haroldo Paiva (provisoriamente bibliotecário), Flávio Andrade (membro da comissão de legislação e crítica - espécie de conselho fiscal). Para esse conselho, foi indicada também Elinor Oliveira, que não pode ficar até o final da assembléia, que também indicou Elizabeth Marinho (segunda secretária) e Valentina Menezes Gonçalves (segunda secretária ou bibliotecária). Ou seja, praticamente todas os cargos da diretoria foram preenchidos, faltando confirmar alguns.

M – Então, a assembléia de fundação foi um sucesso...

C – Sim. Foi produtiva e concorrida. Teve um público além do esperado. Assinaram a ata de fundação 49 pessoas e pode ser que alguns tenham saído antes da assinatura.

M - E agora, quais os próximos passos?

C - Agora é trabalhar, primeiro na redação final do estatuto, com as modificações aprovadas em assembléia e confirmar a definição de todos os nomes da diretoria, além de proceder o registro da entidade. Nos primeiros meses de 2010, iniciaremos a busca por uma sede, e trabalharemos no acervo documental e bibliográfico da Academia, começando pela documentação, ainda esparsa, da antiga academia, que existiu em Ouro Preto nos anos 50. No início de 2010, a diretoria se reunirá para definir a pauta de trabalho para todo o ano.

Carlos Versiani dos Anjos é natural de Ouro Preto. Graduado e mestre em História, é professor de cultura brasileira e teatro, além de escritor, ator, autor e diretor teatral.



sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Clube de Letras de Sete Lagoas: Crise (permanente) na Cultura

Clube de Letras de Sete Lagoas: Crise (permanente) na Cultura: Nelson Pretto De Salvador (BA) Oito meses do governo Dilma e o Ministério da Cultura continua a ser destaque. Triste destaque, diga-se de...

Crise (permanente) na Cultura


Nelson Pretto
De Salvador (BA)


Oito meses do governo Dilma e o Ministério da Cultura continua a ser destaque. Triste destaque, diga-se de passagem. Diferente dos oito anos da gestão Gilberto Gil/Juca Ferreira. A evidência nestes meses vai para a falta de uma política cultural que enfrente os desafios contemporâneos e que amplifique e aperfeiçoe o caminho aberto e construído durante o governo Lula.

Na semana última, a saída da secretária de Cidadania e Diversidade Cultural, seguido de um ti-ti-ti em torno de outras demissões e desentendimentos, tomou conta das redes sociais.

Desde o anúncio da indicação do nome de Ana de Holanda foi intensa a discussão em função da insatisfação sobre a sua nomeação para o MinC, especialmente nas redes sociais e, logo depois, na mídia em geral. Tão logo assumiu, antes mesmo da equipe toda montada, o novo-velho MinC retira o selo Creative Commons (CC) de sua página e cria a primeira grande crise. Ato simbólico e que gerou imediata reação de brasileiros e estrangeiros. Isso porque, ao longo dos oito anos anteriores, o que se viu foi uma política cultural que transcendeu a dimensão da cultura pura e simples e foi muito além da idéia de cultura-espetáculo.

O selo CC foi apenas - e importante, claro! - marca daquele período e política. Merecem destaques os apoios à criação de videogames nacionais, a implantação dos Pontos de Culturas que, literalmente, explodiram numa rica produção cultural que tomou conta do país a partir dos mais de 3 mil pontos instalados, as profundas discussões sobre a legislação de direito autoral, sobre uma nova forma de se apoiar a produção de cultura com dinheiro público, o Procultura, as ações no campo da diversidade cultural, entre outras. Merece um destaque ainda - e para mim muito importante! - a cultura digital que, não só entrou na pauta do país, como ganhou espaço internacional.

Ações concretas foram iniciadas, como a implantação do importante Fórum de Cultura Digital, acompanhado da criação de um espaço (domínio) na internet especificamente dedicado ao tema (culturadigital. br). “Aqui, um detalhe que pode parecer pequeno para muitos, mas que é de fundamental importância e revela a grandeza da iniciativa: a própria escrita deste domínio, não tendo um”. gov", um ".com" ou nem mesmo um ".org"... é a indicação explícita - chancelada com clareza pelo Comitê Gestor da Internet - de que a cultura digital é aspecto estruturante do mundo contemporâneo, tendo um enorme significado simbólico. Foi assim se constituindo uma política de Estado, conferindo a importância que lhe é devida nesse momento histórico.

Ao longo de todo o início do governo Dilma, as reações às mudanças em andamento no MinC foram acompanhadas atentamente por integrantes dos Pontos de Cultura, por pesquisadores, professores e ativistas que defendem uma radical mudança na legislação do direito autoral em tempos de cultura digital, por muitos artistas que estão compreendendo a importância de políticas públicas que avancem na perspectiva de intensificar a produção cultural a partir da diversidade da sociedade brasileira e, com isso, fazendo com que o país assuma uma posição de vanguarda no cenário mundial.

Na última semana, por conta da nova crise, circulou pela rede uma "Carta Aberta da Sociedade Civil", que assim se inicia: "A cultura do Brasil, seus produtores e agentes em sua mais rica diversidade, se engajou desde o começo do governo Lula no projeto de universalização do conhecimento, do acesso à produção de bens culturais e na distribuição do poder simbólico, econômico e político. Em outras palavras: construir agora o Brasil do futuro, apostando no desenvolvimento e na inclusão, contando com a 'inteligência popular brasileira' e a imaginação dos povos dos Brasis".

O que se pede, com absoluta razão e clareza, é a correção nos rumos do MinC. E indica a necessidade de uma repactuação para que seja possível a retomada dos rumos já apontados. O que se está vendo é uma total desconsideração do que foi aprovado pelas Conferências de Cultura que aconteceram ao longo dos últimos meses do governo Lula e que se materializaram no Plano Nacional de Cultura.

Há, claramente, uma crise de legitimidade do Ministério da Cultura. Para além das questões específicas da Cultura, existem ações outras que demandam uma forte articulação entre o MinC e outros ministérios, a exemplo do MEC. Para ficar apenas em um exemplo, quando este último anuncia a sua disposição de investir na compra de tabuletas (tablets) para os alunos das escolas brasileiras, muitas questões envolvendo as duas áreas surgem: o que isso significa os jovens brasileiros, com um dispositivo móvel na mão, produzindo áudio, vídeo, imagem, em termos da produção autoral brasileira? Como viabilizar uma produção que não seja apenas aquela feita por autores consagrados cujos produtos passariam a ser "adquiridos" e distribuídos num modelo "broadcasting", similar ao que hoje combatemos no sistema de comunicação eletrônica? Como ficará a adoção dos formatos abertos para essas produções? Como viabilizar que as produções emanadas dos Pontos de Cultura cheguem às escolas e aos alunos, seja através de tabuletas, do UCA, ou de qualquer outro dispositivo digital?

Estas são apenas algumas questões que nos vêem à mente e que precisam de um MinC atuante, forte, aberto e democrático.

Essa não é uma construção simples. Demanda uma visão muito ampla de política pública que transcenda um ou outro ministério. Demanda abertura para políticas e projetos que atuem para muito além de suas próprias áreas e com intenso diálogo com a sociedade civil.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

194º Serão Poético – Clube de Letras/Secretaria de Cultura de Sete Lagoas



Neste sábado, dia 3 de setembro, o Clube de Letras de Sete Lagoas, apoiado pela Prefeitura, por meio da secretaria municipal de Cultura e Comunicação Social, realiza o 194º Serão Poético. O evento, que já acontece há 25 anos, ocorre sempre no primeiro sábado de todo mês, às 20h, na Casa da Cultura (localizada na Avenida Getúlio Vargas, 91, Centro).

As “Homenagens do Mês”, parte do evento que teve início recentemente em uma parceria do Clube de Letras e da Prefeitura, vai comemorar o Dia da Pátria, com homenagem ao 86º Grupo de Escoteiros Mafeking; o Dia da Juventude, com homenagens ao teatrólogo João Valadares; e o Dia do Radialista, homenageando o Professor Marcos Antônio Barbosa Lima.

A professora Marisa da Conceição Pereira, presidente do Clube de Letras, explica que todas as homenagens são realizadas tendo como base as datas mais importantes do mês, por intermédio de uma interação poética.

O Serão Poético, além das “Homenagens do Mês” e da poesia declamada, também apresenta outras atividades, como: canto, dança, viola e teatro. A presidente do Clube de Letras explica que essas atividades diversificadas estão presentes porque, para o clube, poesia não é somente aquilo que é declamado. “A poesia pode ser encontrada de várias formas e nos mais diversos tipos de arte. Por isso não restringimos o Serão a somente poesias declamadas, mas incluímos todas as formas de se realizar o que chamamos de poesia”, comenta a professora Marisa da Conceição.

Clube de Letras de Sete Lagoas: Livros que serão distribuídos às escolas públicas ...

Clube de Letras de Sete Lagoas: Livros que serão distribuídos às escolas públicas ...: O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) encerrou a negociação da compra de 162,4 milhões de livros que serão distribuídas às...

Livros que serão distribuídos às escolas públicas custaram R$ 1,1 bilhão


O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) encerrou a negociação da compra de 162,4 milhões de livros que serão distribuídas às escolas da rede pública no ano que vem. O custo total da aquisição foi R$ 1,1 bilhão – a maior compra de livros já feita pelo órgão, que é uma autarquia do Ministério da Educação (MEC). As redes de ensino começam a receber as obras em outubro. A entrega vai até fevereiro de 2012.

Para o próximo ano, o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) adquiriu livros para todas as disciplinas do ensino médio, além de 70 milhões de exemplares de reposição para o ensino fundamental. É o primeiro ano em que os alunos do ensino médio vão receber livros de espanhol, inglês, filosofia e sociologia. Cada obra deve ser usada durante três anos consecutivos. Ao todo, foram adquiridos 2.108 títulos diferentes.

Vinte e quatro editoras tiveram obras selecionadas. O material é apresentado a comissões de especialistas das universidades federais que selecionam as obras a partir de critérios estabelecidos pelo programa, como, por exemplo, a coerência com o currículo escolar. Em seguida, as escolas recebem um guia do livro didático com os títulos disponíveis e escolhem as obras que querem receber. A partir desse levantamento é que os títulos são adquiridos.

O valor de cada exemplar adquirido para 2012 variou entre R$ 5,45 e R$ 28,94. O preço varia de acordo com o número de páginas da obra e a quantidade de exemplares encomendados. A Editora Ática será a maior fornecedora do PNLD 2012, com 33 mil exemplares, ao custo de R$ 194 milhões. Em seguida, aparecem as editoras Saraiva, que receberá R$ 205 milhões por 30,8 mil exemplares, e Moderna, com 30,6 mil publicações ao custo de R$ 220 milhões. As menores fornecedoras são as editoras Fapi e Aymará, com 5 mil e 1,4 mil exemplares, respectivamente.

“Mesmo no caso do livro com preço mais alto, ainda é menor do que aquele que o consumidor compra na livraria. É o ganho de escala que o FNDE tem. Além de ser uma compra direta com a logística otimizada, o livro chega à escola sem nenhum intermediário. Não há custo com vendedor ou outros custos que estão envolvidos no mercado livreiro quando a obra vai para o consumidor comum”, diz Rafael Torino, diretor de Ações Educacionais do FNDE.

Para receber as obras, é necessária a adesão das escolas ao Programa Nacional do Livro Didático – até 2009, a entrega dos livros era feita a todas as redes de ensino, ainda que não houvesse solicitação formal. Atualmente, todos os estados e 97% dos municípios estão inscritos no programa.



quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Clube de Letras de Sete Lagoas: A Lingüística e a Gramática Normativa

Clube de Letras de Sete Lagoas: A Lingüística e a Gramática Normativa: Hélio Schwartsman O pessoal pegaram pesado. Da esquerda à direita, passando por vários amigos meus, a imprensa foi unânime em atacar o liv...

A Lingüística e a Gramática Normativa


Hélio Schwartsman

O pessoal pegou pesado. Da esquerda à direita, passando por vários amigos meus, a imprensa foi unânime em atacar o livro didático "Por uma Vida Melhor", de Heloísa Ramos. O suposto pecado da obra, que é distribuída pelo Programa do Livro Didático, do Ministério da Educação, é afirmar que construções do tipo "nós pega o peixe" ou "os livro ilustrado mais interessante estão emprestado" não constituem exatamente erros, sendo mais bem descritas como "inadequadas" em determinados "contextos".

Os mais espevitados já viram aí um plano maligno do governo do PT para pespegar a anarquia linguística e destruir a educação, pondo todas as crianças do Brasil para falar igualzinho ao Lula. Outros, mais comedidos, apontaram a temeridade pedagógica de dizer a um aluno que ignorar a concordância não constitui erro.

Eu mesmo faria coro aos moderados, não fosse o fato de que, do ponto de vista da linguística --e não o da pedagogia ou da gramática normativa--, a posição da professora Heloísa Ramos é corretíssima, ainda que a autora possa ter sido inábil ao expô-la.

Acredito mesmo que, excluídos os ataques politicamente motivados, tudo não passa de um grande mal-entendido. Para tentar compreender melhor o que está por trás dessa confusão, é importante ressaltar a diferença entre a perspectiva da linguística, ciência que tem por objeto a linguagem humana em seus múltiplos aspectos, e a da gramática normativa, que arrola as regras estilísticas abonadas por um determinado grupo de usuários do idioma numa determinada época (as elites brancas de olhos azuis, se é lícito utilizar a imagem consagrada pelo ex-governador de São Paulo Claúdio Lembo). Podemos dizer que a segunda está para a primeira assim como a pesquisa da etiqueta da corte bizantina está para o estudo da História. Daí não decorre, é claro, que devamos deixar de examinar a etiqueta ou ignorar suas prescrições, em especial se frequentarmos a corte do "basileus", mas é importante ter em mente que a diferença de escopo impõe duas lógicas muito diferentes.

Se, na visão da gramática normativa, deixar de fazer uma flexão plural ou apor uma vírgula entre o sujeito e o predicado constituem crimes inafiançáveis, na perspectiva da linguística nada disso faz muito sentido. Mas prossigamos com um pouco mais de vagar. Se os linguistas não lidam com concordâncias e ortografia o que eles fazem? Seria temerário responder por todo um ramo do saber que ainda por cima se divide em várias escolas rivais. Mas, assumindo o ônus de favorecer uma dessas correntes, eu diria que a linguística está preocupada em apontar os princípios gramaticais comuns a todos os idiomas. Essa idéia não é exatamente nova. Ela existe pelo menos desde Roger Bacon (c. 1214 - 1294), o "pai" do empirismo e "avô" do método científico, mas foi modernamente desenvolvida e popularizada pelo linguista norte-americano Noam Chomsky (1928 -).

Há de fato boas evidências em favor da tese. A mais forte delas é o fato de que a linguagem é um universal humano. Não há povo sobre a terra que não tenha desenvolvido uma, diferentemente da escrita, que foi "criada" de forma independente não mais do que meia dúzia de vezes em toda a história da humanidade. Também diferentemente da escrita, que precisa ser ensinada, basta colocar uma criança em contato com um idioma para que ela o adquira quase sozinha. Mais até, o fenômeno das línguas crioulas mostra que pessoas expostas a pídgins (jargões comerciais normalmente falados em portos e que misturam vários idiomas) acabam desenvolvendo, no espaço de uma geração, uma gramática completa para essa nova linguagem. Outra prova curiosa é a constatação de que bebês surdos-mudos "balbuciam" com as mãos exatamente como o fazem com a voz as crianças falantes.

O principal argumento lógico usado por Chomsky em favor do inatismo linguístico é o chamado Pots, sigla inglesa para "pobreza do estímulo" ("poverty of the stimulus"). Em grandes linhas, ele reza que as línguas naturais apresentam padrões que não poderiam ser aprendidos apenas por exemplos positivos, isto é, pelas sentenças "corretas" às quais as crianças são expostas. Para adquirir o domínio sobre o idioma elas teriam também de ser apresentadas a contra-exemplos, ou seja, a frases sem sentido gramatical, o que raramente ocorre. Como é fato que os pequeninos desenvolvem a fala praticamente sozinhos, Chomsky conclui que já nascem com uma capacidade inata para o aprendizado linguístico. É a tal da Gramática Universal.

O cientista cognitivo Steven Pinker, ele próprio um ferrenho defensor do inatismo, extrai algumas consequências interessantes da teoria. Para começar, ele afirma que o instinto da linguagem é uma capacidade única dos seres humanos. Todas as tentativas de colocar outros animais, em especial os grandes primatas, para "falar" seja através de sinais ou de teclados de computador fracassaram. Os bichos não desenvolveram competência para, a partir de um número limitado de regras, gerar uma quantidade em princípio infinita de sentenças. Para Pinker, a linguagem (definida nos termos acima) é uma resposta única da evolução para o problema específico da comunicação entre caçadores-coletores humanos.

Outro ponto importante e que é o que nos interessa aqui diz respeito ao domínio da gramática. Se ela é inata e todos a possuímos como um item de fábrica, não faz muito sentido classificar como "pobre" a sintaxe alheia. Na verdade, aquilo que nos habituamos a chamar de gramática, isto é, as prescrições estilísticas que aprendemos na escola são o que há de menos essencial, para não dizer aborrecido, no complexo fenômeno da linguagem. Não me parece exagero afirmar que sua função é precipuamente social, isto é, distinguir dentre aqueles que dominam ou não um conjunto de normas mais ou menos arbitrárias que se convencionou chamar de culta. Nada contra o registro formal, do qual, aliás, tiro meu ganha-pão. Mas, sob esse prisma, não faz mesmo tanta diferença dizer "nós vai" ou "nós vamos". Se a linguagem é a resposta evolucionária à necessidade de comunicação entre humanos, o único critério possível para julgar entre o linguisticamente certo e o errado é a compreensão ou não da mensagem transmitida. Uma frase ambígua seria mais "errada" do que uma que ferisse as caprichosas regras de colocação pronominal, por exemplo.

Podemos ir ainda mais longe e, como o linguista Derek Bickerton (1925 -), postular que existem situações em que é a gramática normativa que está "errada". Isso ocorre quando as regras estilísticas contrariam as normas inatas que nos são acessíveis através das gramáticas das línguas crioulas. No final acabamos nos acostumando e seguimos os prescricionistas, mas penamos um pouco na hora de aprender. Estruturas em que as crianças "erram" com maior frequência (verbos irregulares, dupla negação etc.) são muito provavelmente pontos em que estilo e conexões neuronais estão em desacordo.

Mais ainda, elidir flexões, substituindo-as por outros marcadores, como artigos, posição na frase etc., é um fenômeno arquiconhecido da evolução linguística. Foi, aliás, através dele que os cidadãos romanos das províncias foram deixando de dizer as declinações do latim clássico, num processo que acabou resultando no português e em todas as demais línguas românicas.

A depender do zelo idiomático de meus colegas da imprensa, ainda estaríamos todos falando o mais castiço protoindo-europeu.

Não sei se algum professor da rede pública aproveita o livro de Heloísa Ramos para levar os alunos a refletir sobre a linguagem, mas me parece uma covardia privá-los dessa possibilidade apenas para preservar nossas arbitrárias categorias de certo e errado.


Hélio Schwartsman, 44, é articulista da Folha. Bacharel em Filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve para a Folha.com às quintas-feira

terça-feira, 30 de agosto de 2011

AMIGOS DAS LETRAS: Concurso Dengue/Lixo - Resultado Final

AMIGOS DAS LETRAS: Concurso Dengue/Lixo - Resultado Final: Este são do ganhadores do concurso: - Modalidade Ens. Fundamental: Rafaella Valadares Diniz, 6º ano, Colégio Laís ...

Clube de Letras de Sete Lagoas: Literatura Contemporânea

Clube de Letras de Sete Lagoas: Literatura Contemporânea: Contexto histórico Nas últimas décadas, a cultura brasileira vivenciou um período de acentuado desenvolvimento tecnológico e industrial; e...

Literatura Contemporânea


Contexto histórico

Nas últimas décadas, a cultura brasileira vivenciou um período de acentuado desenvolvimento tecnológico e industrial; entretanto, neste período ocorreram diversas crises no campo político e social.

Os anos 60 (época do governo democrático-populista de J.K.) foram repletos de uma verdadeira euforia política e econômica, com amplos reflexos culturais: Bossa Nova, Cinema Novo, teatro de Arena, as Vanguardas, e a Televisão.

A crise desencadeada pela renúncia do presidente Jânio Quadros e o golpe militar que derrubou João Goulart colocaram fim nessa euforia, estabelecendo um clima de censura e medo no país (promulgação do AI-5; fechamento do Congresso; jornais censurados, revistas, filmes, músicas; perseguição e exílio de intelectuais, artistas e políticos). A cultura usou disfarces ou recuou.

A conquista do tricampeonato mundial de futebol em 1970 foi capitalizada pelo regime militar e uma onda de nacionalismo ufanista espalhou-se por todo o país, alienando as mentes e adormecendo a consciência da maioria da população por um bom período de tempo: "Brasil - ame-o ou deixe-o", a cultura marginalizou-se.

Em 1979, um dos primeiros atos do presidente Figueiredo foi sancionar a lei da anistia, permitindo a volta dos exilados. Esse ato presidencial fez o otimismo e esperança renascerem naqueles que discordavam da política praticada pelos militares daquele período.

Na década de 80 inicia-se uma mobilização popular pela volta das eleições diretas, que só veio a concretizar-se em 89, com a posse de Fernando Collor de Mello, cassado em 1991.
1995: eleição e posse do presidente Henrique Cardoso.

Manifestações Artísticas
As manifestações literárias desse período desenvolvem-se a partir de duas linhas-mestras:
a) De um lado, a permanência de alguns autores já consagrados como João Cabral e Carlos Drummond de Andrade acompanhada do surgimento de novos
Artistas como Lygia F. Telles e Dalton Trevisan, ligados as linhas tradicionais da literatura brasileira: regionalismo, intimismo, urbanismo, introspecção psicológica.

b) De outro lado, a ruptura com valores tradicionais que se dispersam através de propostas alternativas ou experimentais, buscando novos caminhos ou exprimindo de maneiras pouco convencionais as tensões de um país sufocado pelas forças da repressão. Nessa vertente nascem o concretismo, a poesia Práxis, os romances e contos fantásticos, alegóricos.

O professor Domício Proença Filho (cit. in. Faraco e Moura, Língua e Literatura, vol. 3 Ed. Ática), defende a idéia de que "nas três últimas décadas, a cultura brasileira tem vivido sob o signo da multiplicidade seja na área política, social ou artística". Para ele, a cultura pós-moderna apresenta as seguintes características:

Eliminação entre fronteiras entre a arte erudita e a popular; presença marcante da intertextualidade (diálogo com obras já existentes e presumivelmente conhecidas) mistura de estilos (ecletismo que contenta gostos diversificados) preocupação com o presente, sem projeção ou perspectivas para o futuro. Na dramaturgia, especificamente, surgiu um espectador mais ativo que passou a fazer parte de uma interação entre atores e platéia.
Música e cinema sofrendo concorrência e pressão por parte da "moda" imposta pelos países mais desenvolvidos.

A rapidez de sucessão dos modismos, tendo por objetivo o consumo desenfreado;

O lucro passou a reinar na sociedade brasileira.
Tratando-se especificamente da Literatura, o Professor Proença aponta as seguintes características dessa arte, neste período:
a) Ludismo na criação da obra, desembocando freqüentemente na paródia ou pastiche. Ex: as sucessivas imitações do famoso poema de Gonçalves Dias, "Canção do Exílio" ("Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá...").

b) Intertextualidade, característica da qual os textos de Drummond como "A um bruxo com amor" (retomando M. de Assis); "Todo Mundo e Ninguém" (retomando o auto da Lusitânia, de Gil Vicente) são belos exemplos.

c) Fragmentação textual: "associação de fragmentos de textos colocados em seqüência, sem qualquer relacionamento explícito entre a significação de ambos", como em uma montagem cinematográfica.

POESIA

Nesta há duas constantes:
a) Uma reflexão cada vez mais acurada e crítica sobre a realidade e a busca de novas formas de expressão; mantêm nomes consagrados como João Cabral, Mário Quintana, Drummond no painel da literatura.

b) Afirmação de grupos que usavam técnicas inovadoras como: sonoridade das palavras, recursos gráficos, aproveitamento visual da página em branco, recortes, montagens e colagens.

As principais vanguardas poéticas prendem-se aos grupos:
Concretismo, Poema-Processo, Poesia-Social, Tropicalismo; Poesia-Social e Poesia-Marginal.

Concretismo
O concretismo foi idealizado e realizado pelos irmãos Haroldo e Augusto de Campos e por Décio Pignatari. Em 1952 esse movimento começou a ser divulgado através da revista "Noigrandes” ("antídoto contra o tédio" em linguagem provençal), mas seu lançamento oficial aconteceu em 1956, com a Exposição Nacional da Arte Concreta em São Paulo. Suas propostas aparecem no Plano- Piloto da Poesia Concreta; assinado por seus inventores:

Poesia concreta: produto de uma evolução crítica de formas, dando por encerrado
O ciclo histórico do verso (unidade rítmico- formal), a poesia concreta começa por tomar conhecimento do espaço gráfico como agente estrutural, espaço qualificado estrutura espaço- temporal, em vez de desenvolvimento meramente temporístico ¬linear, daí a importância da idéia do ideograma, desde o seu sentido geral de sintaxe espacial ou visual, até os seus sentidos específico (fenollosa/pound) de método de compor baseado na justa posição direto-analógica não lógico discursiva - de elementos. (...). Poesia concreta: uma responsabilidade integral perante a linguagem, realismo total, contra uma poesia de expressão, subjetiva e hedonística. Criar problemas exatos e resolvê-los em termos de linguagem sensível uma arte geral da palavra. O poema- produto: objeto útil (grifos nossos).

Vários poemas desse período não apresentam versos; "jogam" com a forma e o fundo, aproveitando o espaço gráfico em sua totalidade, "brincam" com o significado e o significante do signo lingüístico, rejeitam a idéia de lirismo e tratam de forma inusitada o tema. O poema é como um quadro, sem ligações com o universo subjetivo; esse "objeto" concreto é passível de manipulação e permite múltiplas leituras (de cima para baixo; da direita para a esquerda, em diagonal, etc.).

Como se pode perceber, retomam procedimentos que remontam às vanguardas do início do século, tais como Cubismo e Futurismo. Seus recursos são os mais variados: experiências sonoras (aliterações, paronomásias; caracteres tipográficas variadas (formas e tamanhos); diagramação; criação de neologismos... O poeta é um artesão da civilização urbana, sintonizado com o seu tempo.

Poesia - Práxis
Em 1962, Mário Chamie lidera em grupo dissidente, contra o radicalismo dos "mais concretos" e instaura a poesia-práxis. Em sua obra Lavra-lavra faz uma espécie de manifesto:
"as palavras não são corpos inertes, imobilizados a partir de quem as profere e as usa... As palavras são corpos- vivos. Não vítimas passivas do contexto.

O autor práxis não escreve sobre temas, ele parte de "áreas” (seja uma fato externo ou emoção), procurando conhecer todos os significados e contradições possíveis e atuantes dessas áreas, através de elementos sensíveis que conferem a elas realidade e existência".
A poesia-práxis preocupou-se com a palavra- energia, que gera outras palavras - uma valorização do ato de compor. É o que se vê no poema Agiotagem, de Mário Chamie:

Agiotagem
Um dois três
O juro: o prazo
O pôr/ o cento/ o mês/ o ágio porcentagio.
Dez cem mil
O lucro: o dízimo
o ágio/ a moral/ a monta em péssimo empréstimo.

Muito nada tudo a quebra: a sobra a monta/ o pé/ o cento/ a quota haja nota agiota
Fragmento do Poema "LAVRADOR" (Mário Chamie)
LAVRA: Onde tendes pá, pé e o pó sermão da cria: tal terreiro
DOR: Onde tenho a pó, o pé e a pá quinhão da via: tal meu meio de plantar sem água e sombra.
LAVRA: Onde está o pó, tendes câimbra;
Poema-código (ou semiótico) e Poema / Processo.
Em 1964, Décio Pignatari e Luiz Ângelo Pinto, lançaram a idéia do poema- código ou semiótico, predominantemente visual, incorporando outras linguagens (jornal, propaganda), montando um texto à maneira dadaísta.

Uma outra variante do Concretismo foi uma radicalização ainda maior - o poema - processo -, criação de Wladimir Dias Pino e Alvares de Sá, utilizando, sobretudo signos visuais e dispensando o uso da palavra.

A poética da resistência: A poesia-social

Seu principal mentor é o maranhense Ferreira Gullar, que, em 1964, rompe com a poesia concreta e retoma o verso discursivo e temas de interesse social (guerra- fria, corrida atômica, neocapitalismo, terceiro mundismo), buscando maior comunicação com o leitor e servir como testemunha de uma época. Após o golpe militar e a AI-5, empreende uma verdadeira "poesia de resistência". Ao lado de outros escritores, artistas e compositores (J.J. Veiga, Thiago de Mello, Affonso Romano de Sant'Ana, Antônio Callado, Gianfrancesco Guarnieri, Chico Buarque, Oduvaldo Viana Filho...).

Tropicalismo
O movimento musical popular chamado Tropicalismo originou-se, ainda na década de 60, nos festivais de M. P. B. realizados pela TV Record, que projetaram no cenário nacional, os jovens Caetano Veloso, Gilberto Gil, o grupo Os Mutantes e Tom Zé, apoiados em textos de Torquato Neto e Capinam e nos arranjos do maestro Rogério Duprat.

Com humor, irreverência, atitudes rebeldes e anarquistas os tropicalistas procuravam combater o nacionalismo ingênuo que dominava o cenário brasileiro, retomando o ideário e as propostas do Movimento Antropofágico de Oswald de Andrade. Dessa forma, propunham a devoração e de deglutição de todo e qualquer tipo de cultura, desde as guitarras elétricas dos Beatles até a Bossa Nova de João Gilberto e o "nordestinismo" de Luiz Gonzaga.

Características dos textos:
Ironia e paródia, humor e fragmentação da realidade; enunciação de flashes cinematográficos aparentemente desconexos, ruptura com os padrões tradicionais da linguagem (pontuação sintaxe etc.).
Suas influências foram fundamentais na música, mas repercutiram também na literatura e no teatro.
Com o AI-5, seus representantes foram perseguidos e exilados.
A partir daí, a linguagem artística ou se cala ou se metaforiza ou apela para meios não convencionais de divulgação.


A Poesia Marginal

Segundo a professora Samira Youssef Campedelli (M Literatura, História e Texto, 3, Saraiva) "a poesia desenvolvida sob a mira da polícia e da política nos anos 70 foi uma manifestação de denuncia e de protesto, uma explosão de literatura geradora de poemas espontâneos, mal-acabados, irônicos, coloquiais, que falam do mundo imediato do próprio poeta, zombam da cultura, escarnecem a própria literatura.

A profusão de grupos e movimentos poéticos, jogando para o ar padrões estéticos estabelecidos, mostra um poeta cujo perfil pode ser mais ou menos assim delineado ele é jovem, seu campo é a banalidade cotidiana, aparentemente não tem nem grandes paixões nem grandes imagens, faz questão de ser marginal". Experimentalismo, moralidade, ideologia e irreverência são algumas de suas características.

A divulgação dessa obra foge do "circuito tradicional": são textos fechados em muros; jornais, revistas e folhetos mimeografados ou impressos em gráficas de fundo de quintal e vendidas em mesas de restaurantes, portas de cinemas, teatros e centros culturais; happening e shows musicais; até uma "chuva de poesia" foi realizada no centro de São Paulo, da cobertura do edifício Itália, em 1980.

Ainda de acordo com a Professora Samira (opuscit, p.354) "Recupera-se alguns laços com a produção do primeiro Modernismo (1922) - poemas -minuto, poemas ¬piada; experimentaram-se técnicas como a colagem e a desmontagem dadaístas; praticaram-se formas consagradas, como o sonetos ou o haicai; tudo foi possível dentro do território livre da poesia marginal, como bem atestam os poemas de Paulo Leminsky, à moda grafite, com sabor de haicai:

NÃO DISCUTO COM O DESTINO O QUE PINTAR EU ASSINO
Representantes desse grupos: Wally Salomão, Cacaso,Capinam, Alice Ruiz, Charles, Chacal, Torquato Neto e Gilberto Gil (Marginalia e "Geléia Geral")
O céu não cai do céu
O céu não cai do céu, poema de Régis Bonvicino
Não é rara também a paródia, assim como a metalinguagem.
Enquanto os concretistas atribuem grande importância à construção do poema, os marginais preocupam-se, sobretudo com a expressão, ora de fatos triviais, ora de seus sentimentos. Por isso, boa parte dessa poesia marca-se por um tom de conversa íntima, de confissão pessoal.

Outras Tendências
Alguns poetas não se filiam a nenhuma dessas tendências, ou constituindo obra pessoal ou seguindo novos caminhos, ainda muito novos e incertos para serem "catalogados"; ou retomando a linha criativa de poetas já consagrados, como Drummond, Murilo Mendes e João Cabral.
São eles: Adélia Prado, Manuel de Barros, José Paulo Paes, Cora Coralina; entre outros.

Prosa
Assim como na Poesia, na Prosa o período pós-moderno caracteriza-se por uma pluralidade de tendências e estilos.

A partir dos anos 70, vão-se quebrando limites entre os gêneros literários: romance e conto, conto e crônica, crônica e notícia; desdobram-se e acabam incorporando técnicas e linguagens, antes fora de seus domínios. Dessa forma, aparecem romances com ares de reportagens; contos parecidos com poemas em prosa ou com crônicas, autobiografias com lances romanescos narrativos que adquirem contornos de cena teatral; textos que se constroem por justaposição de cenas, reflexões, documentos...

O Romance
O romance ora segue as linhas tradicionais, aprofundando-se e enriquecendo-as com novos temas; ora inova, criando novas nuances de prosa.
Há diversos tipos de romance

Romance regionalista:
Seguindo um caminho tradicional, iniciado desde o Romantismo, uma safra de bons escritores continua a retratar o homem no ambiente das zonas rurais, com seus problemas geográficos e sociais.

Ex:
Mário Palmério (Vila dos Confins, Chapadão do Bugre), José Cândido de Carvalho (O Coronel e o Lobisomem), Bernardo Élis (O tronco), Herberto Sales (Além dos Maribus), Antônio Callado (Quarup); entre outros.

Romance Intimista:
Na mesma linha de sondagem interior, de indagação dos problemas humanos, iniciada por Clarice Lispector, vários autores exploram o interior de personagens angustiadas, desnudando seus traumas, problemas psicológicos, religiosos, morais e metafísicos:

Ex:
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra, As Meninas), Autran Dourado (Ópera dos Mortos, O Risco no Bordado), Osman Lins (O Fiel e a Pedra), Lya Luft (Reunião de Família), Aníbal Machado (João Ternura), Fernando Sabino (O Encontro Marcado), Josué Montello (Os degraus do Paraíso), Chico Buarque (Estorvo); entre outros.

Romance urbano - social

Documenta os grandes centros urbanos com seus problemas específicos: a burguesia e o proletariado em constante luta pela ascensão social, luta de classes, violência urbana, solidão, angústia e marginalização.

Ex:
José Condé (Um Ramo para Luísa), Carlos Heitor Cony (O ventre), Antônio Olavo Pereira (Marcoré), Marcos Rey, Luís Vilela, Ricardo Ramos, Dalton Trevisan e Rubem Fonseca.

Romance político A censura calou, durante um tempo, as vozes dos meios de comunicação de massa fazendo com que o romance passasse a suprir essa lacuna, registrando o dia-a-dia da história, fazendo surgir novas modalidades de prosa:

a) paródia histórica. Ex: Márcio de Sousa (Galvez, o Imperador do Acre), Ariano Suassuna (A Pedra do Reino), João Ubaldo Ribeiro (Sargento Getúlio).

b) o romance reportagem, com emprego de linguagem jornalística e enredos com relatos de torturas, como veículo de denúncia e protesto contra a opressão.
Ex: Ignácio de Loyola Brandão (Zero, não Verás País Nenhum), Antônio Callado (Quarup, Reflexos do baile), Roberto Drummond (Sangue de Coca- Cola) e Rubem Fonseca (O Caso Morel).

c) o romance policial, com aspectos urbanos e políticos aparece na ficção de Marcelo Rubens Paiva (Bala na Agulha) e de Rubem Fonseca; este último, considerado o melhor nesse gênero, escreveu "A Grande Arte", "Bufo & Spallanzani”, "Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos” dentre outros.

d) o romance histórico, que consegue fundir narrativa policial, fatos políticos e abordagem histórica tem grandes representantes como a obra "Agosto" de Rubem Fonseca, que retrata os acontecimento políticos que levaram Getúlio Vargas ao suicídio; "Boca do Inferno" de Ana Miranda que retrata a Bahia do século XVII e os envolvimentos políticos e amorosos de Gregório de Matos; Fernando Morais seguindo esta linha escreve "Olga", a história da esposa de Luís Carlos Prestes, entregue aos alemães nazistas pelo governo de Getúlio.

No Realismo Fantástico e no Surrealismo alguns escritores constroem metáforas que representam a situação do Brasil utilizando situações absurdas e assustadoras.

Ex:
Murilo Rubião é o pioneiro (O Pirotécnico Zacarias, O Ex-Mágico); J. J. Veiga (Sombras de Reis Barbudos, A Hora dos Ruminantes); Moacir Scliar (A Balada do Falso Messias, Carnaval dos Animais); Érico Veríssimo (Incidente em Antares).
Romance Memorialista e / ou autobiográfico
Essa tendência surge na ficção brasileira na década de 80, misturando autobiografia, relatos de viagens memoriais e reflexões de intelectuais que viveram no exílio ou foram testemunhas das atrocidades cometidas pelo regime militar.

Ex: Pedro Nava (Baú de Ossos), Érico Veríssimo (Solo de Clarineta I e II), Fernando Gabeira (O que é isso Companheiro? e O Crepúsculo do Macho), Marcelo Rubens Paiva (Feliz Ano Velho).
Romances experimentais e metalingüísticos
Desenvolvem novas técnicas de narrativa e trabalho linguístico que apresentam estrutura fragmentária.

Ex:
Osman Lins (Avalovara), Ignácio de Loyola Brandão (Zero), Ivan Ângelo (A Festa), Antônio Callado (Reflexos do Baile).

O Conto e a Crônica

A partir dos anos 70, houve uma verdadeira explosão editorial do conto e da crônica, por serem narrativas curtas, condensadas e atenderem à necessidade de rapidez do mundo moderno. Novas dimensões foram introduzidas no conto tradicional: subversão da seqüência narrativa, interiorizarão do relato, colagem de flashes e imagens, fusão entre poesia e prosa, evocação de estados emocionais.

A crônica, texto ligeiro, de interpretação imediata, com flagrantes do cotidiano, também passou a agradar o leitor tornando-se popular.

Autores que se destacam nesses dois gêneros:
Contos:
Lygia F. Telles, Osmar Lins, Murilo Rubião, Autran Dourado, Homero Homem, Moacyr Scliar, Oto Lara Resende, Dalton Trevisan, J. J. Veiga, Nélida Pinon, Rubem Fonseca, João Antônio, Domingos Pelegrim Jr, Ricardo Ramos, Marina Colasanti, Luís Vilela, Marcelo Rubens Paiva, Ivan Ângelo e Hilda Hilst.

Crônica:
Rubem Braga, Vinícius de Moraes, Paulo Mendes Campos, Raquel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Álvaro Moreira, Sérgio Porto (Stanislau Ponte Preta), Lourenço Diaféria, Luís Fernando Veríssimo e João Ubaldo Ribeiro.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

domingo, 28 de agosto de 2011

Grande Sertão - Veredas - Analise


  
  Grande Sertão: Veredas - travessia que Riobaldo, narrador-personagem, faz em suas memórias a fim de narrar suas vivências a um "senhor" durante três dias. Travessia que Guimarães Rosa faz através do caráter insólito e ambíguo do homem, tornando uma experiência individual (Riobaldo) em caráter universal - "o sertão é o mundo".
         A primeira parte do romance (até aproximadamente à página 80), Riobaldo faz um relato "caótico" e desconexo de vários fatos (aparentemente sem relações entre si), sempre expondo suas inquietações filosóficas (reflexões sobre a vida, a origem de tudo, Deus, Diabo,...) - Eu queria decifrar as coisas que são importantes. E estou contando não é uma vida de sertanejo, seja se fôr jagunço, mas a matéria vertente. "O discurso ambivalente de Riobaldo (...) se abre a partir de uma necessidade, verbalizada de maneira interrogativa". No entanto, há uma grande dificuldade em narrar e organizar seus pensamentos: Contar é muito dificultoso. Não pelos anos que se já passaram. Mas pela astúcia que tem certas coisas passadas - de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. É o compadre Quelemém de Góis que lhe socorre em suas dúvidas, mas não de forma satisfatória, daí a sua necessidade de narrar.
         A partir da página 80, Riobaldo começa a organizar suas memórias. Fala da mãe Brigi, que o obrigava à esmolação para a paga de uma promessa. É nessa ocasião, à beira do "Velho Chico", que Riobaldo se encontra pela primeira vez com o garoto Reinaldo, fazendo juntos uma travessia pelo rio São Francisco. Riobaldo fica fascinado com a coragem de Reinaldo, pois como este afirma: "sou diferente (...) meu pai disse que eu careço de ser diferente (...).
         A mãe de Riobaldo vem a falecer, sendo ele levado à fazenda São Gregório, de seu padrinho Selorico Mendes. É lá que Riobaldo toma contato com o grande chefe Joca Ramiro, juntamente com os chefes Hermógenes e Ricardão. Selorico Mendes envia o seu afilhado ao Curralinho, a fim de que tivesse contato com os estudos. Posteriormente, assume a função de professor de Zé Bebelo (fazendeiro residente no Palhão com pretensões políticas. Zé Bebelo, querendo pôr fim aos jagunços que atuavam no sertão mineiro, convida Riobaldo a participar de seu bando. Riobaldo troca as letras pelas armas. É desse ponto que começa suas aventuras pelo norte de Minas, sul da Bahia e Goiás como jagunço e depois como chefe.
         O bando de Zé Bebelo faz combate com Hermógenes e seus jagunços, onde este acaba por fugir. Riobaldo deserta do bando de Zé Bebelo e acaba por encontrar Reinaldo (jagunço do bando de Joca Ramiro), ingressando no bando do "grande chefe". A amizade entre Riobaldo e Reinaldo acaba por se tornar sólida, onde Reinaldo revela o seu nome - Diadorim - pedindo-lhe segredo. Juntamente com Hermógenes, Ricardão e outros jagunços, combate contra as tropas do governo e de Zé Bebelo.
         Depois de um conflito com o bando de Zé Bebelo, o bando liderado por Hermógenes fica acuado, acabando-se por se separar, reunindo-se posteriormente. O chefe Só Candelário acaba por integrar-se ao bando de Hermógenes, tornando-se líder do bando até o encontro com Joca Ramiro. Nessa ocasião, Joca Ramiro presenteia Riobaldo com um rifle, em reconhecimento à sua boa pontaria (a qual lhe faz valer apelidos como "Tatarana" e "Cerzidor"). O grupo de Joca Ramiro acaba por se dividir para enfrentar Zé Bebelo, conseguindo capturá-lo. Zé Bebelo é submetido a julgamento por Joca Ramiro e seus chefes - Hermógenes, Ricardão, Só Candeário, Titão Passos e João Goanhá - acabando a ser condenado ao exílio em Goiás.
         Depois do julgamento, o bando do grande chefe se dispersa, Riobaldo e Diadorim acabam por seguir o chefe Titão Passos. Posteriormente, o jagunço Gavião-Cujo vai ao encontro do grupo de Titão Passos para informar a morte de Joca Ramiro, que foi assassinado à traição por Hermógenes e Ricardão ("os judas"). Riobaldo fica impressionado com a reação de Diadorim diante da notícia. Os jagunços se reúnem para combaterem os judas.
         Por essa época, Riobaldo tem um caso com Nhorinhá (prostitutriz), filha de Ana Danúzia. Conhece Otacília na fazenda Santa Catarina, onde tem intenções verdadeiras de amor. Diadorim, em determinada ocasião, por ter raiva de Otacília, chega a ameaçar Riobaldo com um punhal.
         Medeiro Vaz junta-se ao bando para a vingança, assumindo a chefia. Inicia-se a travessia do Liso do Sussuarão. O bando não agüenta a travessia e acaba por retornar. Medeiro Vaz morre. Zé Bebelo retorna do exílio para ajudar na vingança contra os judas, tomando a chefia do bando.
         Por suas andanças, o bando de Zé Bebelo chega à fazenda dos Tucanos, onde são encurralados por Hermógenes. Momentos de grande tensão. Zé Bebelo envia dois homens para informarem a presença de jagunços naquele local. Riobaldo desconfia de uma possível traição com esse ato. O bando de Hermógenes fica acuado pelas tropas do governo e os dois lados se unem provisoriamente para escaparem dos soldados. Zé Bebelo e seus homens fogem à surdina da fazenda, deixando os hermógenes travando combate com os soldados. Riobaldo oferece a pedra de topázio a Diadorim, mas este recusa, até que a vingança tenha sido consumada.
         Os bebelos chegam às Veredas-Mortas. É um dos pontos altos do romance, onde Riobaldo faz o pacto com o Diabo para vencerem os judas. Riobaldo acaba assumindo a chefia do bando com o nome de "Urutu-Branco"; Zé Bebelo sai do bando. Riobaldo dá a incumbência a "seô Habão" para entregar a pedra de topázio a Otacília, firmando o compromisso de casamento. O chefe Urutu-Branco acaba por reunir mais homens (inclusive o cego Borromeu e o menino pretinho Gurigó).
         À procura dos hermógenes, fazem a penosa travessia do Liso do Sussuarão, onde Riobaldo sofre atentado por Treciano, que é morto pelo próprio chefe. Atravessado o Liso, Riobaldo chega em terras baianas, atacando a fazenda de Hermógenes e aprisionando sua mulher. Retornam aos sertões de Minas, à procura dos judas. Encurralam o bando de Ricardão nos Campos do Tamanduá-tão, onde o Urutu-Branco mata o traidor. Encontro dos hermógenes no Paredão. Luta sangrenta. Diadorim enfrenta diretamente Hermógenes, ocasionando a morte de ambos. Riobaldo descobre então que Diadorim se chama Maria Deodorina da Fé Bittancourt Marins, filha de Joca Ramiro.
         Riobaldo acaba por adoecer (febre-tifo). Depois de se restabelecer, fica sabendo da morte de seu padrinho e herda duas fazendas suas. Vai ao encontro de Zé Bebelo, o qual o envia com um bilhete de apresentação a Quelemém de Góis: Compadre meu Quelemém me hospedou, deixou meu contar minha história inteira. Como vi que ele me olhava com aquela enorme paciência - calma de que minha dor passasse; e que podia esperar muito longo tempo. O que vendo, tive vergonha, assaz.
Mas, por fim, eu tomei coragem, e tudo perguntei:
-"O senhor acha que a minha alma eu vendi, pactário?!”
Então ele sorriu, o pronto sincero, e me vale me respondeu:
-"Tem cisma não. Pensa para diante. Comprar ou vender, às vezes, são as ações que são as quase iguais..."
(...)
Cerro. O senhor vê. Contei tudo. Agora estou aqui, quase barranqueiro. (...) Amável senhor me ouviu, minha idéia confirmou: que o Diabo não existe. Pois não? O senhor é um homem soberano, circunspecto. Amigos somos. Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se fôr... Existe é homem humano. Travessia.


4 - Linguagem

         Em Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa faz uma recriação da linguagem, "recondicionando-a inventivamente, saindo do lugar-comum a fim de dar maior grandeza ao discurso. Nu da cintura para os queixos (ao invés de nu da cintura para cima) e ainda Não sabiam de nada coisíssima (no lugar de não sabiam de coisa nenhuma) constituem exemplos do apuramento da linguagem roseana.
         Toda a narrativa é marcada pela oralidade (Riobaldo conta seus casos a um interlocutor), portanto, sem possibilidades de ser reformulado, já que é emitido instantaneamente. Ainda tem-se as dúvidas do narrador e suas divagações, onde é percebido a intenção de Riobaldo em reafirmar o que diz utilizando a própria linguagem.
         O falar mineiro associado a arcaísmos, brasileirismos e neologismos faz com que o autor de Sagarana extrapole os limites geográficos de Minas. A linguagem ultrapassa os limites "prosaicos" para ganhar dimensão poético-filosófica (principalmente ao relatar os sentimentos para com Diadorim ou a tirar conclusões sobre o ocorrido através de seus aforismos).


4.1 - Aforismos

1. Viver é muito perigoso
2. Deus é paciência
3. Sertão. O senhor sabe: sertão 'onde manda quem é forte, com as astúcias.
4. ...sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar.
5. ...toda saudade é uma espécie de velhice
6. Jagunço é isso. Jagunço não se escabreia com perda nem derrota - quase tudo para ele é o igual.
7. Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver.
8. Viver é um descuido prosseguido.
9. sertão é do tamanho do mundo
10. Vingar, digo ao senhor: é lamber, frio, o que o outro cozinhou quente demais.
11. Quem desconfia, fica sábio.
12. Sertão é o sozinho.
13. Sertão: é dentro da gente.
14. ...sertão é sem lugar.
15. Para as coisas que há de pior, a gente não alcança fechar as portas.
16. Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.
17. ...amor só mente para dizer maior verdade.
18. Paciência de velho tem muito valor.
19. Sossego traz desejos.
20. ... Quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade.

5 - Estrutura de Narrativa

 I - TEMPO

         Psicológico. A narrativa é irregular (enredo não linear), sendo acrescidos vários casos pequenos.


II - FOCO NARRATIVO

         Primeira pessoa - narrador-personagem - utilizando-se do discurso direto e indireto livre.


III - ESPAÇO

         A trama ocorre no sertão mineiro (norte), sul da Bahia e Goiás. No entanto, por se tratar de uma narrativa densa, repleta de reflexões e divagações, ganha um caráter universal - "o sertão é o mundo".

  
IV PERSONAGENS

· PRINCIPAL:

         Riobaldo: personagem-narrador que conta sua estória a um doutor que nunca aparece. Riobaldo sente dificuldades em narrar, seja por sua precariedade em organizar os fatos , seja por sua dificuldade em entendê-los. Relata sua infância, a breve carreira de professor (de Zé Bebelo), até sua entrada no cangaço (de jagunço Tatarana a chefe Urutu-Branco), estabelecendo-se às margens do São Francisco como um pacato fazendeiro.


· SECUNDÁRIOS:

         Diadorim: é o jagunço Reinaldo, integrante do bando de Joca Ramiro. Esconde sua identidade real (Maria Deodorina) travestindo-se de homem. Sua identidade é descoberta ao final do romance, com sua morte.

         Zé Bebelo: personalidade com anseios políticos que acaba por formar bando de jagunços para combater Joca Ramiro. Sai perdedor, sendo exilado para Goiás e acaba por retornar com a morte do grande chefe para vingar o seu assassinato.

         Joca Ramiro: é o maior chefe dos jagunços, mostrando um senso de justiça e ponderação no julgamento de Zé Bebelo, sendo bastante admirado.

         Medeiro Vaz: chefe de jagunços que se une aos homens de Joca Ramiro para combater contra Hermógenes e Ricardão por conta da morte do grande chefe.

         Hermógenes e Ricardão: são os traidores, sendo chamados de "judas", que acabam por matar Joca Ramiro. Muitos jagunços acreditavam que Hermógenes havia feito o pacto com o Diabo.

         Só Candelário: outro chefe que ajuda na vingança. Possuía grande temor de contrair lepra.

         Quelemém de Góis: compadre e confidente de Riobaldo, que o ajuda em suas dúvidas e inquietações sobre o Homem e o mundo.


 AS TRÊS FACES AMOROSSAS DE RIOBALDO:

         Nhorinhá: prostituta, representa o amor físico. O seu caráter profano e sensual atrai Riobaldo, mas somente no aspecto carnal.

         Otacília: contrária a Nhorinhá, Riobaldo destina a ela o seu amor verdadeiro (sentimental). É constantemente evocada pelo narrador quando este se encontrava desolado e saudoso durante sua vida de jagunço. Recebe a pedra de topázio de "seô Habão", simbolizando o noivado.

         Diadorim: representa o amor impossível, proibido. Ao mesmo tempo em que se mostra bastante sensível com uma bela paisagem, é capaz de matar a sangue frio. É ela que causa grande conflito em Riobaldo, sendo objeto de desejo e repulsa (por conta de sua pseudo identidade).


6- BIBLIOGRAFIA

ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro,
      Nova Fronteira, 1986.
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo,
      Cultrix, 1988.
CASTRO, Nei Leandro de. Universo e Vocabulário do Grande Sertão,
      20 ed., Rio de Janeiro, Achiamé, 1982.


Jorge Alberto 
   "O bom da vida é pro cavalo que vê capim e come..."
G.S: V.